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Guitarrista do MC5, Wayne Kramer conta história do clássico “Kick Out the Jams”

Guitarrista do MC5, Wayne Kramer conta história do clássico “Kick Out the Jams”
Antes de haver punk havia MC5

Muitos consideram os Sex Pistols a primeira banda punk. Mas antes dos Sex Pistols, vieram os Ramones; antes dos Ramones, vieram os New York Dolls; antes dos New York Dolls, vieram o The Stooges; antes dos The Stooges, veio o MC5. 

Embora tenha sido formado em 1963, o MC5 só lançou seu álbum de estreia “Kick Out the Jams”, em 1969 — gravado ao vivo no halloween do ano anterior. A faixa-título foi seu primeiro single e maior hit. Punk desde o primeiro segundo, começava com um palavrão sendo berrado; algo como “CHUTEM O BALDE, FILHOS DA P*TA!”.

Em publicação da Classic Rock, o guitarrista Wayne Kramer contou a história daquela faixa, que mudou a história da música pop ao ser o marco zero do protopunk:

“Nós éramos comuna-istas [risos]. Tínhamos aquela mentalidade de ‘um por todos, todos por um’, que hesito em chamar de estrutura de negócios. Nos víamos como uma única unidade, mas foi [o vocalista e letrista] Rob Tyner e eu que escrevemos ‘Kick Out The Jams’ na cozinha, fumando um baseado.”

“Tyner estava realmente falando conosco, o resto da banda. Às vezes, eu era crítico com ele, e o que ele estava dizendo era: ‘Deixe-me ser quem eu sou’. Porque ele era fantástico. Ele era o vocalista dos nossos sonhos, e ele escreveu letras que funcionam muito bem, em muitos níveis. O que quisemos dizer com ‘Kick out the jams’? Se você vai fazer algo, vá com tudo, não vacile, esteja totalmente comprometido.”


A semente do punk

Quanto ao espírito punk encapsulado pela faixa, Wayne revelou que ela já era uma oposição aos excessos do rock progressivo:

“Nós éramos muito críticos a todas aquelas bandas de San Francisco. Aquela era a era dos solos de guitarra de 20 minutos, solos de bateria de 40 minutos… As raízes do MC5 estão em Little Richard e Chuck Berry. Foi dali que partimos, tudo cresceu a partir dali. Aí passamos de Little Richard para Sun Ra, tudo envolto na era do Vietnã, dos direitos civis e da rebelião juvenil.”

“Eu nunca me canso de tocá-la. É emocionante todas as vezes. Até mesmo em uma versão acústica. A excitação está no DNA da música. Não há como tocá-la e ser chato. Isso é impossível.”

“Kick Out the Jams” foi o primeiro e maior sucesso do MC5, mas também foi o início de sua derrocada por ter acabado custando a eles seu contrato com uma grande gravadora:

“Já de cara, sabíamos que [uma música começando com um grito] ‘Kick out the jams, motherfucker!’ jamais tocaria no rádio, então gravamos uma versão [que dizia] ‘Kick out the jams, brothers and sisters’ para o single. Instruímos a Elektra a esperar até que a música atingisse o auge das paradas antes de lançar o álbum. Porque quando o álbum fosse lançado, ia dar ruim, mas pelo menos já teríamos tido um single de sucesso.” 

“Acabou que, assim que viram o single decolando, eles lançaram o álbum às pressas. E quando as crianças voltaram para casa com esse disco e os pais ouviram ‘motherfucker’, dava para ouvir a indignação reverberando por toda a América.”

“A Elektra nos perguntou se podia lançar uma versão limpa do álbum. Nós dissemos não e eles fizeram mesmo assim. Já tínhamos tido uma grande ruptura em nosso relacionamento e, então, porque nosso contrato dizia que tínhamos controle sobre nossa publicidade […] a loja de departamentos Hudson’s de Detroit se recusou a [vender o disco do] MC5, então a banda publicou um anúncio de página inteira em um jornal underground local que dizia simplesmente ‘Foda-se, Hudson’s’ e incluía, sem permissão, o logotipo da Elektra. Aquilo foi a gota d’água e a Elektra nos demitiu.”


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André Garcia

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