Eric Clapton sobre as drogas e os anos 70: “Eu não sei como sobrevivi”
Eric Clapton é uma daquelas figuras que faziam muito jus à alcunha de contradição ambulante: ao longo dos anos 60, quanto mais realizava todos os seus sonhos, mas infeliz se sentia. Quanto mais ascendia, mais afundava; quanto mais tinha motivos para se sentir feliz, mais alto falavam em sua cabeça seus demônios interiores.
Dessa forma, na década seguinte, ele afundou na bebida e na heroína, o que quase custou não só sua carreira, como sua vida. Em entrevista de 2016 para a Classic Rock, ele relembrou aqueles dias com sinceridade:
Você é uma pessoa reservada e, no entanto, grande parte de sua vida é pública para todos verem. Sua narrativa — a ascensão, queda e ressurgimento — é tão chocante quanto qualquer outra no rock, mas deve ser estranho para você ver tudo isso exposto, porque era você que estava vivendo aquilo.
“Eu não sei como sobrevivi [risos], especialmente nos anos setenta. Houve um momento em que eles estavam me levando para o hospital em St. Paul [Minnesota], eu estava morrendo, aparentemente: tinha três úlceras, uma delas sangrando. Eu estava bebendo três garrafas de conhaque e tomando punhados de codeína, estava perto de bater as botas. E eu ne sequer me lembro disso. É incrível que eu ainda esteja aqui, de verdade.”
Com a heroína, é verdade que você não injetava, e sim cheirava, porque permitia que você usasse mais?
“Sim. Era um grande desperdício, na verdade. Financeiramente, é a pior forma [de usar], a não ser que você possa pagar. Mas aquilo acabou me salvando, porque na veia é muito mais perigoso: por conta de agulhas contaminadas ou overdose.”
É verdade que certa vez você estimou que gastava mil libras por semana em heroína? O equivalente hoje em dia a a oito mil libras [aproximadamente 50 mil reais] por semana?
“Sim. Eu estava prestes a ficar sem dinheiro, estava com a conta quase vazia. […] Eles [meus empresários e contadores] não me policiavam muito. Eu era deixado muito solto. […] Mas quase [fali]… Não sei o quão perto cheguei… E as pessoas ao meu redor também — eu estava arrastando as pessoas comigo. Essa é sempre a pior parte de ser um viciado ou alcoólatra: as pessoas são arrastadas junto, e às vezes elas afundam antes do personagem principal.”
O motivo pelo qual Eric Clapton largou as drogas
Eric Clapton entrou na reabilitação pela segunda (e última) vez em 1987 — e se mantém sóbrio desde então. Aquilo foi 10 anos após lançar o hit “Cocaine”, e pouco antes do nascimento de seu filho Conor. Conforme publicado pelo TruHealing, ele contou:
“Eu realmente fiz aquilo pelo Conor, porque eu pensei que, não importa que tipo de ser humano eu fosse, eu não suportaria estar perto dele naquele estado. Eu não suportava a ideia de que, à medida que ele vivesse o bastante para formar uma imagem de mim, seria a imagem da pessoa que eu era naquela época.”
Quanto a seus dias de abuso químico, ele respondeu:
“Eu não sei se posso sinceramente me arrepender qualquer parte daquilo com segurança, porque aquilo me trouxe onde estou. Minha vida não seria a mesma, e eu não teria o que tenho hoje, não fosse o fato de ter passado por todas aquelas coisas.”