The Cure: O álbum concebido por Robert Smith para ser “totalmente inacessível”
Na década de 90, o The Cure foi do céu ao inferno de um álbum para outro: Foi dos estádios lotados no “Wish” (1992) ao fracasso comercial e deboche dos críticos no “Wild Mood Swings” (1996). Entre eles, o Robert Smith entrou em um inferno astral com a insatisfação com a vida de popstar e a depressão, além de ter sido arrastado para os tribunais em longo e desgastante processo de seu ex-colega Lol Tolhurst.
A partir dali, após alguns anos de hiato, a banda ressurgiu em 2000 com o bucólico, sereno e épico “Blood Flowers”, com faixas longas, desenvolvidas sem qualquer pressa. Em entrevista de 2004 para a Spin, Smith contou que o álbum foi concebido para ser “totalmente inacessível”, mas acabou indicado ao Grammy:
“Eu dei um passo para longe de me preocupar com o que as outras pessoas pensavam sobre a banda, e comecei a pensar, ‘Por que estou ainda fazendo isso depois de tantos discos?’. ‘Blood Flowers’ foi realmente uma tradução disso, porque eu realmente não estava ligando para o que as pessoas fossem pensar. O fato de que tenha sido o nosso primeiro álbum indicado ao Grammy realmente me divertiu na época, porque, em minha mente, ele foi projetado para ser um álbum totalmente inacessível, algo apenas para os fãs do Cure. Eu estava voltando aos dias de ‘Faith’ [1981] e ‘Pornography’ [1982].”
Embora não tenha sido lá um grande sucesso comercial, “Blood Flowers” já estreou nas paradas da Billboard em #16. Sua indicação ao Grammy foi na categoria Melhor Álbum de Música Alternativa, mas perdeu para “Kid A”, do Radiohead. Sua segunda faixa, “Watching Me Fall”, toca nos créditos finais do clássico cult cinematográfico American Psycho, estrelado por Christian Bale.
Robert Smith relembrou como satisfatória a gravação do “Blood Flowers”
Em entrevista de 2004 para a Rolling Stone, Robert Smith relembrou a produção do “Blood Flower” — uma ruptura com seus trabalhos anteriores:
“Vejo, olhando em retrospecto, que as músicas é que provavelmente precisavam ser encurtadas, mas eu achei que elas eram beneficiadas por sua duração. […] Eu curto aquele desenvolvimento lento, e não queria impor uma estrutura de 3 minutos a nada que eu estava compondo, porque teria sido uma idiotice.”
“Chegamos a fazer umas duas canções pop na etapa das demos, mas elas soaram muito superficiais. A gravação de ‘Bloodflowers’ foi a melhor experiência que tive desde ‘Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me’. Eu cumpri meus objetivos, que era fazer um álbum, curtir a gravação, e terminar com um conteúdo realmente intenso e emocional — sem me matar no processo!”