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Maior hit do New Order, quanto mais “Blue Monday” vendia, mais prejuízo dava

Maior hit do New Order, quanto mais “Blue Monday” vendia, mais prejuízo dava
O single "Blue Monday" e a mais genialmente burra das capas

Formado em 1976, o Joy Division se tornou uma das mais influentes bandas do post punk; mesmo tendo sido trágica e prematuramente encerrada em 1980, com o suicídio do vocalista Ian Curtis. Pouco depois, com a tecladista Gillian Gilbert os membros remanescentes seguiram em frente com uma nova identidade: New Order.

Logo, eles deixaram a sonoridade crua e sombria do Joy Division e se consagraram com um pé no rock de garage e outro na música eletrônica. Uma das músicas que melhor a sintetizam é “Blue Monday” que, lançada em 1983, foi seu maior hit. Curiosamente, apesar de ser o single de 12″ mais vendido de todos os tempos, deu um baita prejuízo a eles. A história por trás dessa música é tão incrível quanto ela própria, então senta que lá vem história.

O bis é algo comum nos shows: os músicos saem do palco, a plateia pede mais, e eles retornam para mais algumas músicas. O New Order era avesso à prática, pois preferia ficar no camarim bebendo a retornar ao palco. Só que a recusa gerava tanta reclamação dos organizadores e do público que, influenciados pelo Kraftwerk, tiveram uma ideia: E se fizessem uma música que sua parafernália ficasse tocando sozinha no palco?


Computadores fazem arte; artistas fazem dinheiro

Em emtrevista para a Yahoo, o baixista Peter Hook contou que eles entraram em estúdio com seu equipamento eletrônico para gravar trilhas que, justa e sobrepostas, montassem um quebra-cabeças sonoro. Tudo ia bem até que o baterista Stephen Morris esbarrou em uma tomada e travou o equipamento; primitivo, se comparado ao que se tem hoje em dia. Só então que eles se deram conta de que não tinham feito qualquer gravação ou registro de sua criação. Todo o progresso foi perdido, e restou a eles recomeçar tudo do zero, contando apenas com o que eles tinham na memória.

Para piorar a frustração, foi persistente sensação de que tudo do que refaziam ficava inferior à magia espontânea do que haviam perdido no tempo (como lágrimas na chuva). A muito custo, eles conseguiram finalmente construir uma música que poderia ser executava sem apenas por seus sintetizadores, sequenciadores, samplers e drum machines. Foi o engenheiro de som que sugeriu a inclusão de um baixo, o que inspirou o vocalista a escrever uma letra e cantar. Dessa forma, foi por água abaixo a ideia original de ser algo que pudesse ser tocado sozinho pelas máquinas.

E assim nasceu “Blue Monday”, que, por destoar do álbum “Power, Corruption & Lies”, preferiram lançar por fora, como single. Só que, como ela passava dos 7 minutos de duração, teve que ser lançada como single de 12 polegadas: um disco maior.


O hit que quanto mais vendia, mais prejuízo dava

Logo de cara, “Blue Monday” gerou um impasse: era longa demais para os padrões das rádios da época, e a banda se recusava a fazer uma versão mais curta. Dessa forma, ela pouco foi tocada, e passou despercebida; até que, sabe-se lá como ou por que, no verão virou um hit nos resorts italianos e espanhóis. A classe média inglesa, que passava suas férias lá, ao voltar para casa, foi às lojas de disco procurar aquela música. 

O single já nem estava mais nas prateleiras, mas, com aquela grande demanda, foi prontamente relançado, e dessa vez vendeu como água. Não só se tornou o single de 12″ mais vendido de todos os tempos, como assim permanece sendo até hoje. Aquilo parecia não ter como dar errado, mas as bandas de Manchester sempre dão um jeito de perder — mesmo quando ganham. 

O New Order havia tido para a capa uma ideia brilhantemente burra: simular um disquete, o que exigia que cada capa fosse cortada três vezes. Com aquilo, o custo da produção aumentava tanto que superava o preço do disco em 10 cents de libra esterlina. Logo, quanto mais vendia, mais dinheiro eles perdiam. 

Com vendas de 1,2 milhões de cópias apenas no Reino Unido, o estrago financeiro foi grande. Posteriormente, a capa foi alterada para não precisar mais dos três furos, mas, até que isso acontecesse, o rombro foi de 50 mil libras. E, como eles eram geridos pelo próprio selo independente, e não por uma grande gravadora multinacional, quem teve que arcar com o prejuízo foram eles.

O baterista Stephen Morris ainda deu risada dessa história. Ele achava hilário que estivessem torrando dinheiro para pagar pelos pedaços de papel que eles não recebiam.


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André Garcia

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