The Crimson Ghost: O seriado de 1946 de onde os Misfits tiraram seu mascote
Nos anos 70 e 80, surgiu uma curiosa tendência entre as bandas de metal: a adoção de personagens como mascotes: Iron Maiden tinha Eddie, Megadeth tinha Vic Rattlehead, Motörhead tinha Snaggletooth…
No punk, os Ramones até tinham o Pinhead, mas o mascote mais emblemático do gênero foi a caveira do Misfits. Não só ela é conhecida por todos que conhecem a banda, como também até por aqueles que nunca a ouviram. Eu mesmo a conheci muito antes de conhecer eles, nos anos 90, no programa Disney CRUJ (era a camisa do personagem Chiclé).
Mas de onde aquela caveira foi tirada? Se tratando do Misfits — pioneiros do horrorpunk e fanáticos por filmes b de terror e ficção científica — é comum pressupor que fosse de algum filme de terror antigo, mas não. Sua origem foi, na verdade, um antigo seriado de ação de 1946, The Crimson Ghost.
A televisão foi criada no século XIX, mas as primeiras transmissões de TV começaram a ser realizadas apenas na década de 1930, e o aparelho começou a se popularizar apenas na década de 1950. Antes da televisão, as pessoas assistiam seriados era no cinema. Os film serial, como eram chamados, eram divididos em episódios que duravam cerca de 10 minutos e eram exibidos geralmente de forma semanal.
Resenha do film serial O Fantasma Escarlate
The Crimson Ghost/O Fantasma Escarlate, ele foi lançado em 1946 pela Republic Pictures e se tornou um dos principais film serials. Originalmente lançado em 12 partes somando 167 minutos, foi relançado na década de 60 em seis partes e 100 minutos, e na década de 90 foi relançado em cores.
Seu enredo tipicamente Guerra Fria, com o vilão tentando se apoderar de alguma arma nuclear (ou algo do gênero) em busca de riqueza e poder. Nesse caso, o vilão com máscara de caveira queria roubar o Cyclotrode: uma máquina benigna, feita para desativar mísseis nucleares em pleno ar, mas que também podia ser usada para o mal. O herói que se arrisca para detê-lo é o criminologista Duncan Richards.
A série é obviamente datada em diversos aspectos, mas ainda dá para assistir e se divertir. A ação é constante e mais bem feita e emocionante do que costumavam ser as dos filmes noir na época. A trama é cheia de planos, contra-planos e revira-voltas, que mantém o espectador entendendo o que está acontecendo (afinal, as falas explicativas são até excessivas) como interessado no que vai acontecer.
Assim como era comum nos seriados da época, cada episódio termina com um cliffhanger — situações limites onde parece que o herói morreu e está tudo acabado, mas o começo do episódio seguinte mostra que não foi bem assim. Considero o recurso interessante, ainda mais como retrato das obras de seu tempo. Pode ser algo meio tosco para quem assistir hoje inteiro, como um filme, mas não podemos esquecer que ele foi feito para ser assistido com um intervalo de uma semana entre os episódios.
O problema é quando o mesmo truque é usado diversas vezes: o carro que bate e explode, mas no espisódio seguinte outro ângulo mostra que o herói pulou para fora antes da colisão. Quando isso acontece, deixa de ser emocionante e passa a ser previsível. Fora isso, os personagens são bacanas (embora vez ou outro extremamente burros). O herói e o vilão cumprem bem seu papel, embora sejam estereotípicos, e a protagonista não é a donzela em perigo a ser resgata, como era comum na época, e sim uma heroína que participa da ação ao invés de ser um mero fardo.
The Crimsom Ghost foi lançado no Brasil como O Fantasma Escarlate, mas não está disponível nos serviços de streaming (procurando direitinho no YouTube você acha). Como anteriormente dito, é datado, mas um interessante retrato de sua época, que ainda vale a pena ser assistido — especialmente para cinéfilos ou fãs de Misfits, que certamente vão vibrar a cada aparição do temido vilão.
O seriado foi até homenageado pela banda nos anos 90 com uma música que leva seu título no nome: