Rush: Geddy Lee nega que mensagem da letra de “2112” promova o fascismo
Em 1978, o álbum “2112” já tinha dois anos de lançado, mas andava dando o que falar na Inglaterra. A letra da faixa-título, que narra a luta de um indivíduo pela liberdade contra um regime opressor, gerava interpretações das mais diversas. Com aquilo, o Rush foi acusado de ser anarquista, anti-comunista, anti-capitalista, fascista… de tudo.
Em entrevista para o The Guardian, por exemplo, o assunto descambou muito mais para política, economia e filosofia do que para a música. O tempo todo, Geddy Lee e Neil Peart buscaram não impor respostas, mas deixar que os fãs chegassem eles mesmos a suas próprias conclusões.
Neil Peart disse:
“O exemplo que estamos tentando dar é o que vivemos. Não queremos subir ao palco e ser como John Lennon, por exemplo, empurrando uma mensagem goela abaixo das pessoas. […] Isso se resume a escolha.”
Geddy Lee competou:
“Exatamente. É uma tentativa de alcançar essa profundidade, essa amplitude no que apresentamos. A escolha é estritamente do indivíduo no que diz respeito a que nível eles escolherão ser entretidos por nós.”
O que eles não esperavam, era o que o entrevistador, Barry Miles, em sua matéria acabaria os pintando como “proto-fascistas”:
“Consegui o trabalho de entrevistar o Rush porque eu era o único no NME que sabia quem era Ayn Rand, simples assim. Ayn Rand? Oh, ela é uma escritora cult americana ultraconservadora obscura do final dos anos 30 e início dos anos 40; e sim, o Rush segue suas ideias. A épica ‘2112’ é uma reescrita de seu livro Anthem, e eles também batizaram seu selo fonográfico canadense com o mesmo nome do livro.”
Talvez Barry Miles não soubesse disso, mas “Anthem” é a faixa de abertura do “Fly By Night” (1975) — primeiro álbum do Rush com Neil Peart.
“Esses caras estão defendendo essas coisas no palco e em discos, e ninguém sequer questiona. Ninguém está pegando no pé deles. Todos os sinais clássicos da direita estão lá: a linguagem pseudo-religiosa […], que se estende até mesmo a chamar a equipe de turnê de “road masters” [mestres da estrada] em vez de road managers [gerentes de estrada]. O uso de um símbolo quase místico — o homem nu confrontando a estrela vermelha do socialismo (pelo menos é o que eu suponho que deveria ser). Está tudo lá.”
“Eles são realmente caras muito legais. Eles não ficam por aí com coturnos arrancando as asas de moscas. Eles são educados, encantadores até, ingênuos; percorrendo seus circuitos de shows pregando o que para mim soa como proto-fascismo, como um leproso sem sino.”
Geddy Lee é filho de pai e mãe poloneses enviados para o temido campo de concentração Auschwitz quando ainda eram adolescentes — foi lá que se conheceram, aliás. Em recente entrevista para a Mojo, o baixista refutou categoricamente que “2112” tivesse qualquer coisa a ver com uma defesa ou promoção de ideias fascistas:
“É incrível como essa mancha ficou por tanto tempo. Parte do motivo de termos usado como inspiração [Ayn] Rand foi de forma desafiadoramente anti-totalitária, como acontece na trama de ficção científica de ‘2112’. E, bem obviamente, nunca fomos fascistas. O thatcherismo estava em ascenção na Grã-Bretanha. A esquerda estava compreensivelmente assustada, e eu não culpei [Barry Miles] por ter o sistema de crenças que tinha. Mas sugerir que ‘2112’ estava ludibriando a garotada com um mantra de direita com conotações fascistas foi equivocado e irresponsável.”