Paul McCartney relembra como entrou em depressão após o fim dos Beatles
Até a década de 50, o rock era (quase sempre) o cantor em destaque à frente da banda, que era meramente um apoio. Na época, era comum que os instrumentistas ficassem ao fundo — isso se não ficassem atrás das cortinas ou até mesmo fora do palco!
Foram os Beatles que consolidaram o conceito de banda. Assim, cada membro era como um sócio musical, e todos eles subiam ao palco, davam entrevistas, tiravam fotos e apareciam na capa dos discos.
Quando eles se separaram, em 1970, John Lennon e George Harrison, já de saco cheio, ficaram aliviados. Paul McCartney, por outro lado, era o que ainda mais fazia questão dela; e, portanto, foi o que mais sofreu com seu fim.
Em entrevista para a Playboy em 1984, ele relembrou como entrou em depressão após a separação dos Beatles:
“Eu estava impossível. Não sei como alguém conseguiu conviver comigo. Pela primeira vez na minha vida, eu estava um lixo a meus próprios olhos. Um trabalhador desempregado poderia ter dito ‘Pô, pelo menos você ainda tem dinheiro; não pode ser pior do que o que estou passando’. Mas para mim, não tinha nada a ver com dinheiro. Era simplesmente o sentimento, a terrível decepção de não ser mais útil para ninguém. Era um sentimento de vazio que simplesmente corria pela minha alma, e era [algo que] eu nunca tinha experimentado antes.”
“As drogas já tinham me proporcionado pequenas porções daquilo aqui e ali. Já tinha tido no fundo do poço uma vez ou outra, mas eu consegui tirar da minha mente. Neste caso, com o fim dos Beatles, eu estava realmente perdido pela primeira vez na minha vida. Até então, eu não passava de um idiota convencido. Aquela foi a primeira vez que recebi um grande golpe na minha confiança. Quando minha mãe morreu, acho que minha confiança não sofreu. Tinha sido um golpe terrível, mas eu não sentia que era culpa minha.”
Quem sofreu naquele período foi sua esposa, Linda McCartney, que esteve a seu lado o tempo todo. Casados em 1969, tiveram ali sua primeira crise juntos.
“Foi ruim para a Linda. Ela que teve que lidar com aquele cara que não queria sair da cama — e, se saísse, queria voltar para ela logo depois. Que queria beber cada vez mais cedo a cada dia, e nem via sentido em fazer a barba, porque não saia de casa. E eu geralmente estava bastante mórbido. Não havia perigo de suicídio ou algo assim; não chegava a esse ponto. Digamos que eu não teria gostado de viver comigo. Não sei como Linda aguentou.”