O álbum de David Bowie que serviu de gabarito para o The Cure (e o post punk)
Co-fundador do The Cure ao lado de Robert Smith, o baterista Lol Tolhurst fez parte da banda de 1978 até 89. Sua saída se deu por ele ter chegado ao fundo do poço do alcoolismo, após anos buscando na bebida refúgio para sua frustração com ela.
Em seus primeiros anos, entretanto, ele foi um fiel escudeiro. Tanto que, quando a banda implodiu após a turnê de “Pornography” (1982), ela virou por um breve período um duo: Smith e ele. Recentemente, ele publicou um livro falando sobre o The Cure, o post punk e a cena gótica britânica do final dos anos 70 e começo da década seguinte.
Em entrevista para a NME, Lol revelou que quando o livro ainda era apenas uma ideia em sua cabeça, ele encontrou uma caixa de discos. “Comecei a ouvi-los e aquilo me surpreendeu muito, porque tudo o que o The Cure fez estava naqueles deles.”
“‘Low’, de Bowie, foi um gabarito para mim e Robert Smith”
O entrevistador perguntou se ele concordava que com ‘Low’ David Bowie foi um dos fundadores do post punk. “É verdade”, respondeu o baterista.
“Lembro-me de ir a uma festa quando tinha 19 anos, ouvir ‘Sound and Vision’ e ficar pensando que aquilo era tudo o que queria que um single pop fosse: cativante, adorável, mas também muito mais profundo e sombrio. Eu estava observando as pessoas e pensando que é ótima para dançar, te faz sentir bem, mas há algo mais lá também. Eu sabia que era isso que eu queria fazer com a música. Eu queria fazer algo acessível, mas que também pudesse te proporcionar essa sensação. ‘Low’, de Bowie, foi um gabarito para mim, e sei que também foi para Robert [Smith]. Costumávamos tocar muito músicas do Bowie quando começamos. Ainda ouço ‘Low’, provavelmente uma vez a cada duas semanas.”
Décimo primeiro álbum de David Bowie (em apenas 10 anos), “Low” (1977) foi o primeiro de sua parceria com Brian Eno na Trilogia Berlin. Mais uma vez reiventando a si mesmo (e a música pop), adotou uma sonoridade inspirada na vanguardista cena alemã do krautrock. Principalmente em seu lado b — composto exclusivamente por faixas instrumentais e experimentais.
Robert Smith explica por que “The Cure não é uma banda gótica”
Conforme publicado pela Far Out Magazine, em entrevista para a Rolling Stone, o vocalista surpreendeu a muitos ao afirmar categoricamente não considerar o The Cure uma banda gótica:
“Eu não vejo o The Cure como uma banda gótica. Nunca vi. Cresci em um mundo onde ainda não existia o gótico como conhecemos e amamos. E eu fui parte daquela subcultura porque ia ao Batcave [clube aberto em 1982 na Inglaterra, o epicentro do movimento gótico] com [Steve] Severin. [Siouxsie and] the Banshees foram praticamente uma banda gótica por um tempo, mas mesmo eles não o eram de fato. As verdadeiras bandas góticas foram as que fizeram parte do movimento inicial. Eles foram góticos, não eu.”