O álbum de Bob Dylan que nem ele gosta: “Eu estava completamente desiludido”
Bob Dylan é comumente considerado um dos maiores compositores não apenas de seu tempo, mas de todos os tempos. Não por acaso foi o único a ter recebido um Nobel de literatura. Mesmo assim, embora acabamos nos esquecendo disso, até mesmo os gênios no fim das contas são apenas seres humanos — mesmo eles são imperfeitos e sujeitos a falhas.
Após emendar obras-primas ao longo de toda a década de 60, seu décimo álbum “Self Portrait” (1970) foi considerado sua primeira bola fora: um monte de covers desleixados, produção relapsa e composições pouco inspiradas. Apesar disso, com o passar do tempo, ele acabou sendo absolvidos pelos que consideram que foi um trabalho propositalmente fraco — uma forma de se livrar do fardo da esmagadora e messiânica expectativa depositada sobre ele.
No decorrer de sua prolifica carreira, ele tornou a lançar trabalhos decepcionantes; e um dos mais notórios foi o “Under the Red Sky” (1990). Produzido em meio a um bloqueio criativo, nem ele mesmo gosta.
Conforme publicado pela Far Out Magazine, em entrevista para a Rolling Stone em 2006, o trovador americano relembrou:
“Eu não estava levando absolutamente nada para o estúdio. Eu estava completamente desiludido. Deixei outra pessoa assumir o controle de tudo, e só chegava com a letra para a melodia da música.”
A própria Rolling Stone, na edição de 4 de outubro de 1990, deu ao álbum uma crítica decepcionada e uma nota 2 de 5:
“‘Under the Red Sky’, certamente, é Dylan pegando mais leve. É triste dizer, ele está se acomodando demais. […] É desanimador ver o autor de ‘Visions of Johanna’ e de outras cem canções enigmáticas e assombrosas que inspiraram inúmeros poetas, aparecer com títulos como ‘Wiggle Wiggle’ e ‘Handy Dandy’. […] A voz de Dylan, tão expressiva quanto a de um grande bluesman, soa nítida […]. O problema é que Dylan não tem muito a dizer […]. Há destaques […]. No entanto, em sua maior parte, o álbum é no máximo competente; na pior das hipóteses, é burocrático. […] ‘Under the Red Sky’ apresenta uma versão ‘leve’ de Dylan.”
O solo que Slash gravou para Bob Dylan (e ele descartou)
Em 1990, Slash era um dos mais famosos guitarristas do planeta, e já dava seus passos fora do Guns N’ Roses como um requisitado músico de estúdio. Bob Dylan o contratou enquanto gravava “Under the Red Sky”, para o solo de “Wiggle Wiggle”.
Conforme publicado pela Guitar World, em entrevista à GQ o guitarrista relembrou:
“Era uma música simples com uma progressão I-IV-V chamada ‘Wiggle Wiggle’. Quando eu fui tocar, Bob me pediu para fazer algo que soasse como Django [Reinhardt, guitarrista belga de jazz]. Eu pensei que ele estava brincando, e toquei o que eu achei que era um dos meus melhores trechos isolados de guitarra, e ainda gravei também uma trilha acústica.”
“Eu pedi a Don que me mandasse uma mixagem bruta quando estivesse pronta. Uns dias depois ele me enviou a fita e, quando chegou na parte do solo… nada, só eu palhetando o violão. Eu liguei para Don e falei: ‘O que aconteceu com a guitarra?’ Ele respondeu: ‘Bob falou que ficou muito Guns N’ Roses.'”