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Novo single de Baudolino, “Na Gaveta” é uma experiência belamente desorientadora

Novo single de Baudolino, “Na Gaveta” é uma experiência belamente desorientadora
Capa de "Na Gaveta", de Baudolino

Baudolino surgiu no decorrer da pandemia, lançando seu debut em 2021, com a música “Alheia”. No ano seguinte, lançou seu álbum de estreia autointitulado, além dos singles “O Poeta e a Bailarina: Trilogia” e “Ao Vivo no Estúdio Pombo”. Agora, em 2023, lançou os singles “Neblina” e, recentemente, “Na Gaveta”. 

Em seus primeiros segundos, a faixa nos introduz a uma bateria acelerada, eletrônica e suja como a de David Bowie na fase drum n bass, em “Earthling” (1997). Confesso não ter captado como ela se encaixa no restante da música. E, para ser sincero, não estou certo se a falta dela prejudicaria a música. 

A seguir, vem a minha parte favorita. Teclado, baixo e guitarras formam uma base tocando coisas diferentes sobrepostas, mas que se encaixam. A bateria, que poderia ser o fio condutor, oscila propositalmente indefinida. Durante dois terços da música, o ouvinte fica perdido sem saber sequer qual é o compasso, afinal. Quando você acha que é uma coisa, deixa de ser. Uma sensação de confusão e desorientação bem construída, que me agradou. É uma experiência que reflete muito mais o labirinto das emoções do que as linhas retas da razão.

Sobre tudo isso, o vocal se apresenta em meio a uma névoa de reverb; como habitual, remete a David Gilmour em seus momentos mais introspectivos. A gaveta é uma metáfora comumente utilizada por artistas para representar o limbo do que é escrito, mas não é publicado. Tal qual uma carta de amor jamais enviada. Na gaveta é também onde muitas vezes vão parar os sentimentos que não conseguimos compreender ou lidar. Ao final, todos os instrumentos convergem de forma mais direta, mais roqueira. No estilo da faixa instrumental “One of These Days”, do Pink Floyd. 

Com “Na Gaveta”, Baudolino dá mais um passo rumo à sua consolidação em seu gênero e estilo musical. Nesse tipo de som, a banda transita com passos confiantes, como poucos. Como sempre e mais que nunca, indico a audição a quem busca um som mais maduro, introspectivo e contemplativo. É algo desafiador, mas que não te exige ser um crítico musical para compreender; algo para aqueles que passaram da fase das guitarras pesadas, bateria porrada e vocal berrado; algo que harmoniza com uma taça de vinho em uma noite fria na serra fluminense. 

Ouça “Na Gaveta” abaixo:


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André Garcia

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