AC/DC: Todos os álbuns da fase Brian Johnson (até 1992) comentados por Malcolm Young
Quando se fala de AC/DC, não tem como, lembramos logo de Angus Young vestindo uniforme escolar e empunhando uma guitarra Gibson SG. Quem conhece a banda um pouco mais a fundo, entretanto, sabe bem que tão importante quanto ele foi seu subestimado irmão mais velho, Malcolm Young.
Se sobre o palco Malcolm era discreto, paradão lá no fundo, fora do palco ele era o líder, principal compositor e riffmaker. Em entrevista de 1992 para a Classic Rock, ele comentou a discografia do AC/DC. Abaixo você confere seus comentários sobre os álbuns da era Brian Johnson; ou seja, do “Back in Black” até 1992:
Back In Black (1980)
“Umas três ou quatro semanas antes da morte de Bon [em fevereiro de 1980], Angus e eu começamos a trabalhar em algumas ideias, e Bon sentou para tocar bateria. Algumas daquelas ideias acabaram no ‘Back In Black’. Depois, Bon morreu, e não sabíamos se queríamos continuar. A gravadora estava pressionando para que tomássemos uma decisão. Brian [Johnson] nos foi recomendado, e parecia o certo.
“Mas quando Brian entrou, os jornais de música estavam cheios desse debate Bon versus Brian, e ele teve um período difícil. Eu não acho que Brian deixou aquilo afetá-lo. Ele vem de uma origem trabalhadora tradicional: seu pai dele trabalhava nas minas, e ele é um cara durão. No final do dia, Brian teve coragem de subir lá, Ele foi o único cara que encontramos que conseguia cantar alto o suficiente para ser ouvido sobre a barulheira que o resto de nós estava fazendo. Ele sempre seria o nosso cara, quer gostássemos ou não.”
“Então, olhando para trás, muito suor foi investido na produção de ‘Back In Black’. ‘Hells Bells’ foi uma das músicas-chave. Nos lembrava de Bon, e acho que muitos dos nossos fãs mais antigos ainda a veem como uma homenagem a ele. Essa, a faixa-título e ‘Shoot To Thrill’ ainda estão no show ao vivo, e acho que se juntaram a algumas das músicas antigas como clássicos intemporais do AC/DC. Seja lá o que foi que fizemos, devemos ter feito certo, porque foi nosso álbum mais bem-sucedido até então.”
For Those About To Rock (We Salute You) (1981)
“Meu Deus! Demorou uma eternidade para fazermos aquele álbum — e soa como se tivesse mesmo. É cheio de pedaços e partes, não flui corretamente como um álbum do AC/DC deveria. Há alguns bons riffs lá, mas só temos uma música de que gostamos, que é a faixa-título.”
“Quando a escrevemos, queríamos outra música grandiosa para tocar ao vivo, como ‘Let There Be Rock’. ‘For Those About To Rock’ resistiu ao teste do tempo e se tornou nosso principal bis. Mas, quando terminamos o álbum, demorou tanto tempo que acho que ninguém (nem a banda, nem o produtor), conseguia mais dizer se soava certo ou errado. Todo mundo estava cansado de todo o álbum.”
“Por volta da época de ‘For Those About To Rock’, começamos a lotar grandes anfiteatros, e muitas bandas que se apresentavam nos mesmos locais estavam começando a fazer um verdadeiro espetáculo. O pessoal pagava a mesma coisa para ver o AC/DC do que para ver o Genesis. Então se não vissem nenhuma luz, nenhum cenário, só cinco caras tocando ao fundo, vão se sentir lesados.”
“Não importa quão boa seja a música, você tem que apresentar algo da melhor maneira possível. As pessoas agora esperam pelo sino e pelos canhões quando vão a um show do AC/DC, e estamos felizes em proporcionar isso a elas.”
Flick Of The Switch (1983)
“Fizemos esse tão rapidamente, acho que foi uma reação a ‘For Those About To Rock’. Pensamos apenas: ‘Dane-se! Já estamos de saco cheio!’ Ninguém estava no clima para passar mais um ano gravando um álbum, então decidimos nos autoproduzir e garantir que fosse o mais cru possível.
“Até mesmo botamos aquele desenho simples em preto e branco na capa, desenhado a lápis. Tudo sobre ‘Flick Of The Switch’ era muito básico. A faixa-título é a que ainda está na minha mente daquele álbum. ‘Flick Of The Switch’ era uma ótima música ao vivo.”
Fly On The Wall (1985)
“Queríamos intensificar um pouco mais para este álbum, então tentamos nos autoproduzir novamente. Mas dedicamos mais tempo e atenção ao que estávamos fazendo do que a só gravarmos nós mesmos tocando as músicas, como fizemos em ‘Flick Of The Switch’.
“É difícil escolher uma música especial de ‘Fly On The Wall’, mas ‘Shake Your Foundations’ soava ótima quando a tocávamos ao vivo. Houve outra mudança na banda até então. Phil [Rudd] havia saído, e tínhamos Simon Wright tocando com a gente. Ele sabia o que estava fazendo, só bastou que a gente orientasse ele na direção certa e deixasse ele fazer o trabalho. É uma coisa muito simples, tocar bateria para o AC/DC, mas às vezes pode ser difícil fazer o simples.”
Who Made Who (1986)
“Fomos convidados para fazer a trilha sonora do filme ‘Maximum Overdrive’. Havia algumas coisas antigas lá, como ‘Hells Bells’, além de ‘Who Made Who’. Trouxemos nossos antigos produtores Vanda & Young de volta produzindo a faixa-título, e acho que era o que precisávamos. ‘Who Made Who’ foi um retorno à forma para a banda e se tornou uma de nossas faixas ao vivo mais populares. Até a usamos como a música de abertura em nossa turnê naquele ano.”
Blow Up Your Video (1988)
“Queríamos dar continuidade ao que ‘Who Made Who’ havia começado, embora houvesse um longo intervalo entre os álbuns. Havíamos perdido nosso rumo naquela época, e precisávamos recuperar a sensação antiga. Então, ficamos com Vanda & Young novamente e voltamos às nossas raízes. Houve mais produção no álbum do que em ‘Fly On The Wall’ ou ‘Flick Of The Switch’, e tentamos capturar aquele som tradicional de rock’n’roll de doze compassos que tínhamos no início.”
“‘That’s The Way I Wanna Rock’n’Roll’ e ‘Heatseeker’ foram as que mais agradaram quando as tocamos ao vivo, e permaneceram no repertório. Mas também gostei de ‘Meanstreak’, embora ache que pode ter sido muito funky para alguns fãs.”
The Razors Edge (1990)
“Bruce Fairbairn [o produtor] é um verdadeiro cavalheiro. Ele sabia o que queríamos fazer e estava feliz em seguir conosco. Queríamos ouvir cada instrumento nesse álbum e ter o som geral bem na sua cara. O que não queríamos era uma daquelas mixagens americanas com oito overdubs de guitarra, mas Bruce pareceu dar à banda um som moderno sem nos diluir.
“Simon já havia saído naquela época e tínhamos Chris [Slade] na banda, o que nos deu um impulso extra. Ele é um showman por si só, e às vezes acho que o contivemos. ‘Thunderstruck’ foi o primeiro single e acabou sendo a primeira música do set ao vivo. É uma daquelas músicas que soa ótima no palco. ‘Fire Your Guns’ é a mesma coisa. Ambas estavam indo muito bem quando as tocávamos ao vivo.”
Live (1992)
“Desde o início, todos diziam que o AC/DC é uma banda ao vivo e que os álbuns de estúdio nunca nos igualaram ao vivo. Depois de ‘If You Want Blood’ e da morte de Bon, a pergunta sempre esteve lá: quando faríamos outro ao vivo? Queríamos esperar até termos material suficiente com Brian para dar a ele uma boa chance, para que ele não ficasse lá só cantando as velhas músicas de Bon. Este álbum tem todas as melhores músicas do AC/DC de ambas as eras. Algumas das coisas antigas, como ‘Whole Lotta Rosie’, ainda têm um verdadeiro impacto.”
Confira aqui a primeira parte da entrevista, onde ele comenta os álbuns da fase Bon Scott.