Bono e The Edge explicam letra de hit do U2 que todos interpretam ao contrário
No começo dos anos 90, o U2 passou pela maior crise de identidade de sua carreira: Após tanto sucesso na década anterior, eles não suportavam mais ser o U2. Mais que isso, eles não queriam mais ter nada a ver com qualquer coisa que remetesse a eles mesmos.
A reação natural seria acabar com a banda e respirar outros ares em outros projetos, mas eles seguiram um caminho menos óbvio e mais peculiar: formar outra banda completamente diferente com o mesmo nome os mesmos integrantes.
A transição, entretanto, rachou o grupo e quase acabou com ele no processo: Enquanto Bono e The Edge visionaram algo mais vanguardista e eletrônico, os outros dois tiveram dificuldade para captar e embarcar na ideia. Dessa forma, durante a parte inicial das gravações de “Achtung Baby” (1991), a coisa não fluía, e a frustração era generalizada.
No fim das contas, tudo deu certo — “Achung Baby” foi um tremendo sucesso, bem como sua turnê, Zoo TV, que mudou a forma como shows de estádio foram feitos a partir dali. O maior hit do álbum “One”, balada amplamente considerada pelos fãs romântica.
Conforme publicado pela Far Out Magazine, Bono e The Edge discordam totalmente dessa interpretação. Esse segundo na época passava por um duro divórcio, que influenciou diversas letras do disco, como a própria “One”.
O hit que todo mundo entendeu ao contrário
No livro U2 by U2, Bono explicou:
“‘One’ não fala de unicidade, fala de diferença. Não é a velha ideia hippie de ‘Vamos viver todos juntos’, é um conceito muito mais punk rock. É anti-romântico: ‘Somos um, mas não somos iguais; temos que nos apoiar uns aos outros’. É um lembrete de que não temos escolha. Até hoje fico decepcionado quando as pessoas cantam errado o refrão dizendo ‘conseguimos’ em vez de ‘temos que nos apoiar. Porque é uma coisa resignada, na verdade.”
“Não é: ‘Vamos, pessoal, vamos pular o muro’. Goste ou não, a única maneira de sair daqui é se eu te der um impulso para cima do muro e você me puxar. Há algo pouquíssimo romântico nisso. A música é meio retorcida. O que nunca consegui entender por que as pessoas a tocam nos casamentos. Já conheci mais de 100 pessoas a tocaram em seus casamentos. Eu digo a eles: ‘Vocês estão malucos? Ela é sobre separação!'”
No mesmo livro, The Edge corroborou o comentário do vocalista de não se tratar de uma música romântica:
“A letra foi a primeira em um estilo mais íntimo. São duas ideias, essencialmente. Em um nível, é uma conversa amarga, retorcida entre duas pessoas que passaram por coisas ruins e pesadas ‘Nós machucamos um ao outro, e depois fazemos de novo’. Mas em outro nível, há a ideia de que ‘nós temos a oportunidade de apoiar um ao outro’. ‘Ter que’ é a chave. ‘Conseguir’ seria muito óbvio e banal. ‘Ter que’ sugere ser nosso privilégio carregar um ao outro. Isso coloca tudo em perspectiva e introduz a ideia de graça. Ainda assim, eu não teria a tocado em nenhum casamento meu.”
Embora tenha sido lançada quando a banda já tinha mais de 10 anos de estrada, “One” entrou no top 10 das músicas mais tocadas ao vivo por ela. Segundo o site setlist.fm, é a #7, com 803 execuções. E esse numero seguirá crescendo, já que a música está no repertório de seus shows como atração residente em Las Vegas, na faraônica estrutura esférica da MSG Sphere.
Custo da estrutura usada pelo U2 em residência em Las Vegas passou de $2 bilhões
Conforme publicado pela Far Out Magazine, a MSG Sphere possui 100 metros de altura (equivalente a um prédio de 33 andares!). Ela conta com uma experiência multi-sensorial sem precedentes: além de 54 mil metros quadrados de leds, terá mudanças de temperatura e até de aromas! Com capacidade para 20 mil pessoas, terá 17,5 mil assentos (sendo 10 mil deles imersivos). Uma brincadeira que custou mais de 2 bilhões de dólares.
David Byrnes, diretor financeiro do empreendimento, justificou o alto investimento:
“Estamos muito animados com as oportunidades de patrocínio, especialmente em Vegas: destino número um do entretenimento. E a Sphere será a experiência imersiva número um que a cidade oferecerá. Empresas e marcas vão querer se associar a essa experiência. O que é ainda mais encorajador é que várias dessas conversas sobre patrocínio da Sphere estão acontecendo com patrocinadores principais existentes nos demais centros de entretenimento da MSG. Claramente, as empresas reconhecem o valor do patrocínio de eventos na Sphere.”